Por que tantos brasileiros estão se mudando para o Paraguai

Arquivo pessoal – Felipe Monteiro, de Mazagão (AP), está cursando o quinto ano da faculdade de medicina no Paraguai

Quando tinha 17 anos, Felipe Monteiro soube na sua terra natal, a cidade de Mazagão, no Amapá, que um conterrâneo havia estudado Medicina no Paraguai e, hoje, exerce a profissão no Brasil. Agora, aos 24 anos, Monteiro cursa o quinto ano da faculdade de Medicina no país vizinho. Ele é um dos milhares de brasileiros que hoje se preparam para essa carreira no Paraguai. Os brasileiros são quase a totalidade entre os universitários de Medicina, de acordo com estimativas oficiais. “Na minha sala, somos 80 alunos e só 2 são paraguaios. Tem aluno de Santa Catarina, do Rio de Janeiro, de Rondônia, do Acre, do Amazonas”, conta Monteiro à reportagem.

A carreira universitária é um dos vários exemplos da forte presença brasileira no Paraguai, onde os principais motores da economia – do agronegócio ao setor têxtil e de autopeças, entre outros – têm participação decisiva de investidores brasileiros, de acordo com autoridades do governo, empresários e analistas ouvidos pela BBC News Brasil.

E o que tem motivado essas mudanças? Estudantes relatam custos de estudo mais interessantes no Paraguai e empresários e investidores são atraídos pelo sistema de impostos, facilidades para exportação ao Brasil, oferta de energia elétrica e de mão de obra (leia mais relatos abaixo).

A ampla presença brasileira hoje no Paraguai já não está restrita aos chamados “brasiguaios”, termo usado para se referir a brasileiros que se estabeleceram no país, principalmente, no setor da soja, explica o economista Fernando Masi, diretor do Centro de Análise e Difusão da Economia Paraguaia.

Em 2021, segundo os dados mais recentes do Itamaraty, o Paraguai é o primeiro destino dos imigrantes brasileiros na América Latina, com cerca de 246 mil pessoas. O número representa quase 30 mil brasileiros a mais vivendo no país vizinho do que em 2016. Mas estimativas locais apontam que o número pode ser na realidade muito maior que o oficial, já que nem todos se registram nos consulados, que são a base para o levantamento do Itamaraty.

A presença brasileira no Paraguai representa quase a metade do total de 596 mil brasileiros que moram em outros países da América do Sul. Com uma população de 6,7 milhões de habitantes, o Paraguai tem, por exemplo, praticamente o triplo de cidadãos do Brasil do que a Argentina, que tem quase 46 milhões de habitantes e, oficialmente, 90 mil brasileiros.

No mundo, Paraguai é o terceiro país, depois dos Estados Unidos (1,9 milhão) e de Portugal (275 mil), com a maior comunidade brasileira. A maior concentração fica em Ciudad del Este, onde vivem 98 mil brasileiros, mais do que os 80 mil de Buenos Aires, segundo dados oficiais.

‘Praticamente em casa’

O universitário Felipe Monteiro vive em Ciudad del Este, onde frequenta uma igreja evangélica fundada por brasileiros. Ele diz que se sente praticamente em casa. “Moro a dois quilômetros da Ponte da Amizade (que liga Ciudad del Este a Foz de Iguaçu, no Brasil), e, aqui, os paraguaios falam português”, afirma Monteiro, que pretende ser o primeiro médico da família.

O preço da universidade e o custo de vida no Paraguai foram os motivos que o levaram a viver no país. “Tenho uma prima que estuda Medicina em uma universidade particular em Belém e paga mensalidade de R$ 8 mil reais. Aqui, comecei pagando R$ 1,2 mil e, agora, são R$ 1,9 mil, porque há um aumento anual à medida que passamos de ano. Mas é acessível”, diz.

Seu colega no quinto ano de faculdade, o cearense Pedro Nogueira, de 38 anos, era formado e trabalhava como administrador de empresas quando vendeu o que tinha para estudar Medicina em outro país vizinho, a Argentina. Mas ele conta que a escalada inflacionária argentina o levou a pedir transferência para a na Universidade Integración de las Américas, no Paraguai.

Arquivo pessoal – ‘Ficou caro e pedi transferência para cá. Mesmo assim, está valendo muito a pena’, diz Pedro Nogueira sobre mudança da Argentina para o Paraguai

“Na Argentina, era inadmissível não falar espanhol na sala e nas provas orais. No Paraguai, é diferente. Todo mundo fala português. Hoje, agradeço a metodologia argentina. Mas ficou caro e pedi transferência para cá. Mesmo assim, está valendo muito a pena”, diz Nogueira.

Ele calcula que, entre a mensalidade e os gastos cotidianos, incluindo aluguel, suas despesas giram em torno de R$ 3,5 mil. “Já vi gente no Brasil não disfarçar o preconceito quando contei que estudo Medicina no Paraguai. Mas meu plano é ser um médico como os outros que estudaram no Brasil ou em qualquer lugar. Tenho parentes médicos que estudaram na Bolívia, revalidaram o diploma e, hoje, exercem a profissão no Brasil”, afirma.

O Conselho Nacional de Educação Superior (Cones), responsável pela educação universitária no Paraguai, estima que 30 mil estudantes cursem Medicina nas universidades públicas e privadas paraguaias, “dos quais 95% a 97% seriam de origem brasileira”. A maioria dos universitários brasileiros está concentrada, principalmente, nas universidades privadas, segundo a assessoria de imprensa do Cones. De acordo com o órgão paraguaio, houve um boom de novas instituições privadas de ensino superior no país entre 2006 e 2010, com a abertura de 28 universidades e 23 institutos superiores, a maioria na área da saúde.

‘Eldorado empresarial’

No âmbito empresarial e de investimentos, o Paraguai é visto como um “eldorado”, como define o diretor da Câmara de Comércio Paraguai Brasil, Junio Dantas, à BBC News Brasil. “É um país que oferece muitas oportunidades, principalmente para os Estados vizinhos, como o Paraná, Mato Grosso do Sul e também Santa Catarina. O Paraguai é um país que dá uma vantagem competitiva muito grande na parte fiscal.”

Dantas, que tem uma empresa de tecnologia no país, diz que há brasileiros em todas as áreas, principalmente no agronegócio. “A mão de obra aqui é abundante. É muito bom trabalhar com os paraguaios. A energia elétrica é muito barata, porque é abundante. A proximidade com o Brasil ajuda bastante e o sistema de impostos torna o país atraente e competitivo para investimentos”, diz.

O Paraguai compartilha a hidrelétrica de Itaipu com o Brasil e a de Yacyretá com a Argentina. O país possui leis de incentivo fiscal e de geração das chamadas maquilas, que fazem parte da cadeia produtiva entre os dois países, como explica à BBC News Brasil o vice-ministro de Indústria do Ministério da Indústria e Comércio, Francisco Ruiz Díaz.

As maquilas paraguaias foram criadas para atrair investimentos e gerar empregos, diz Ruiz Díaz. Nesse regime, as empresas importam insumos que são usados em uma fábrica no Paraguai e os exportam transformados no produto final, sem pagar impostos e pagando apenas 1% como seguro da operação realizada, explica o vice-ministro.

A inspiração para este modelo veio do sistema mexicano em sua aliança comercial com os Estados Unidos. “Setenta por cento das exportações do Paraguai para o Brasil são resultado da maquila. Um exemplo é o setor têxtil. As empresas brasileiras trazem a linha do Brasil, fabricam o tecido aqui e o enviam para as confecções no Brasil”, afirma.

Getty Images – Paraguai é o terceiro país, depois de EUA e Portugal, com a maior comunidade brasileira

Os brasileiros, diz o vice-ministro, estão presentes nas áreas de bioetanol, de grãos e de carnes, por exemplo. “No caso da carne bovina, temos aqui frigoríficos brasileiros que exportam o produto para o Brasil e outros países”, afirma.

Dantas, da Câmara de Comércio Paraguai Brasil, diz que a entidade estima que cerca de 400 mil brasileiros estejam presentes no Paraguai, principalmente na região da fronteira – número bem maior do que o contabilizado pelo Itamaraty.

Mas por que esta forte presença brasileira no país vizinho? Ruiz Díaz diz que isso é resultado de um processo que se acelerou a partir de 2003-2004, com o boom das commodities. Ele lembra que, até os anos 1940, o Paraguai era um país dependente das exportações para a Argentina. Mas, nas décadas seguintes, sucessivos governos passaram a buscar maior aproximação com o Brasil, com a estratégia de aumentar a população na região de fronteira, com o estímulo da distribuição de terras.

No entanto, com as dificuldades geradas pela falta de infraestrutura, muitos desistiram desses terrenos ou os venderam por preços baixos. Com o passar dos anos, esta região passou a prosperar, e leis criadas nos anos 1990, diz o vice-ministro, como as de incentivos fiscais e de maquila, passaram a ser aproveitadas nos anos 2000 – principalmente pelos investidores brasileiros, quando começaram a precisar de máquinas para desenvolver seus empreendimentos no território paraguaio.

Ruiz Díaz acrescenta que as sucessivas crises econômicas argentinas acabaram complicando a aproximação e o intercâmbio com esse outro país vizinho. “Quando a gente olha para a história do Brasil e da Argentina, o Paraguai é, entre todos os países do Mercosul, o que mais demorou em se desenvolver”, diz.

Para ele, seu país passou a ser atraente não só pela simplificação fiscal, mas pelas oportunidades que existem no país. “Quando olhamos os números…Em 2003, na área de maquila, as exportações eram de US$ 5 milhões (anuais) e, agora, superam US$ 1 bilhão. Vinte vezes mais”, disse.

Para Ruiz Díaz, no caso das maquilas, ou maquiladoras, a guinada ocorreu a partir de 2013, com a instalação de empresas de autopeças no Paraguai que exportam o produto às montadoras no Brasil.

“O Paraguai tem energia abundante e a mais barata da região, mão de obra farta, um sistema de impostos amigável, vantajoso. Isso permitiu que o Brasil se abastecesse de matéria-prima em condições muito competitivas.” O país conta hoje com a presença de empresas de vários países além do Brasil, como Japão, Alemanha e Estados Unidos.

Além da maquila e do sistema de impostos, Ruiz Díaz aponta que as reformas econômicas, que incluíram metas inflacionárias e fiscais, foram realizadas nos anos 2000 e mantidas ao longo deste tempo, contribuindo para gerar confiança entre investidores estrangeiros.

Desafios

Fernando Masi, do Cadep, diz, porém, que o próximo governo, que será eleito no dia 30 de abril, deverá buscar alternativas para ampliar a arrecadação de impostos para os investimentos necessários em infraestrutura e na área social. “A arrecadação tributária é muito baixa no Paraguai. Mas seja quem for, o eleito manterá a mesma política de equilibro macroeconômico que vem sendo aplicada no país”, afirma.

Pesquisas indicam que a disputa para a Presidência será principalmente entre Santiago Peña, do governista Partido Colorado, e Efraín Alegre, da opositora Concertación. Segundo Masi, a expectativa é que a economia paraguaia cresça entre 4,5% e 5% em 2023, bem acima da previsão de 1,4% para o Brasil, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Um dos principais desafios do Paraguai, disse o analista, é combater a pobreza, que atinge 27% da população, e a desigualdade social.

Masi acrescenta que a presença brasileira é hoje “muito mais visível” e diversificada do que até recentemente. “Antes, eram os chamados brasiguaios, que se dedicavam ao cultivo da soja. Hoje, são investidores em frigoríficos, em maquila, que está concentrada principalmente em autopeças, têxtil e plástico e gera muitos empregos no Paraguai. E, agora, estão também os estudantes, com uma forte presença em diferentes áreas, nos últimos dez anos”, diz o analista.

Dantas, da Câmara de Comércio Paraguai Brasil, que já morou em países da África e em Portugal e se estabeleceu no país vizinho há 25 anos, observa que a presença brasileira está sendo decisiva para a industrialização do Paraguai. “São mais de 200 maquiladoras operando no país. Entre 70% e 80% são de origem brasileira, o que demonstra a força do empresariado brasileiro no Paraguai.”

Fonte: www.bbc.com BBC News Brasil

EUA prendem suspeitos de operarem delegacia secreta da China em Nova York

Breon S. Peace, principal procurador do Brooklyn, ao centro, durante entrevista coletiva em Nova York – David ‘Dee’ Delgado/Reuters

Policiais prenderam dois moradores de Nova York sob a acusação de operarem uma “delegacia secreta” da China no bairro de Chinatown, segundo o procurador-geral do Brooklyn afirmou em nota nesta segunda (17). O órgão seria uma ferramenta para perseguir dissidentes baseados nos Estados Unidos.

Lu Jianwang, 61, e Chen Jinping, 59, são alvos de denúncias de conspiração para atuar como agentes do governo chinês sem o conhecimento das autoridades americanas e de obstrução da Justiça, ainda de acordo com a Procuradoria. Eles devem se apresentar à corte federal no Brooklyn ainda nesta segunda.

As acusações surgem em meio a um momento em que o Departamento de Justiça intensifica as investigações sobre o que chama de tentativas de “repressão transnacional” por adversários de Washington, como China e Irã, para intimidar oponentes políticos que vivem nos Estados Unidos.

“A acusação revela a violação flagrante, por parte da China, da soberania da nossa nação, ao colocar uma delegacia secreta no meio de Nova York”, disse Breon Peace, principal procurador federal do Brooklyn.

Os promotores disseram que Lu e Chen são cidadãos norte-americanos e lideram uma organização sem fins lucrativos cuja missão é fornecer um local de encontro social para pessoas da província chinesa de Fujian.

Em 2018, Lu tentou persuadir um indivíduo considerado fugitivo pela China a voltar para seu país de origem, disseram os promotores. Quatro anos depois, o governo chinês também teria, segundo a Procuradoria, pedido a Lu para localizar um indivíduo que vivia na Califórnia —ele era identificado como um ativista pró-democracia. A delegacia teria sido aberta e fechada em 2022.

“Não podemos e não iremos tolerar a perseguição do governo chinês aos ativistas pró-democracia que buscaram refúgio neste país”, disse Breon Peace, o principal promotor federal do Brooklyn, a repórteres.

Também nesta segunda, procuradores apresentaram acusações contra 34 autoridades chinesas por supostamente operar uma “fazenda de trolls” e assediar dissidentes na internet, inclusive interrompendo suas reuniões em plataformas de tecnologia dos EUA.

Os procuradores ainda adicionaram oito funcionários do governo chinês como réus em um caso de 2020 que acusa um ex-executivo do Zoom de interromper videoconferências comemorativas dos protestos de 1989 na Praça da Paz Celestial. Os funcionários acusados estão todos foragidos.

A dupla detida teria admitido ao FBI, a polícia federal americana, ter excluído os registros de seus contatos com um funcionário do governo chinês depois de saber que estavam sendo investigados. Procuradores federais acusaram mais de uma dúzia de cidadãos chineses e outros de realizar campanhas de vigilância e assédio contra dissidentes nos EUA, inclusive tentando repatriar à força pessoas consideradas fugitivas.

As acusações vêm após o diretor do FBI, Christopher Wray, dizer a um comitê do Senado, em novembro, que estava “muito preocupado” com a presença de tais delegacias em cidades dos EUA. Para ele, o estabelecimento de presença policial chinesa no país “viola a soberania” e contorna a cooperação policial. A embaixada da China em Washington não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da agência de notícias Reuters.

Fonte: www1.folha.uol.com.br

Por que investimento bilionário em segurança nas escolas não impediu aumento de ataques nos EUA

Crédito: Getty Images

Os Estados Unidos vivem um paradoxo: o país nunca investiu tanto em medidas para aumentar a segurança escolar. E, ainda assim, nunca viu tantos massacres em escolas e universidades como nos últimos anos. E é desta contradição que podem surgir respostas para uma das mais acaloradas discussões do atual debate público brasileiro: como prevenir e conter massacres escolares, que tem se intensificado no país?

Desde setembro de 2022, o Brasil testemunhou ao menos sete episódios violentos em escolas com repercussão na imprensa nacional. O caso mais recente aconteceu nesta quarta (5/4) em Blumenau (SC), quando um homem invadiu uma creche e matou 4 crianças com uma machadinha.

No mesmo dia do massacre, o ministro da Justiça e Segurança Pública anunciou a liberação de R$150 milhões para ampliar a atuação das rondas escolares – grupos de policiais militares ou guardas civis que fazem policiamento ostensivo nas portas e nos arredores de unidades escolares e creches. No maior Estado do país, que viveu drama semelhante uma semana antes, a discussão foi pelo mesmo caminho.

Um aliado do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), o deputado Guto Zacarias (União Brasil) apresentou um projeto de lei que autoriza policiais militares de folga a atuarem, de forma remunerada, como seguranças armados em escolas estaduais. Na justificativa para a medida, Zacarias cita o caso de um aluno de 13 anos que matou a professora a facadas e feriu outras três educadoras e um aluno em um ataque a uma escola na zona oeste de São Paulo, no final de março. Mas o exemplo americano dá pistas sobre a eficácia e os limites deste tipo de abordagem para lidar com o problema.

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O caso americano

Desde abril de 1999, quando dois estudantes abriram fogo contra colegas na Columbine High School (no Colorado), em um episódio considerado como o marco inicial de uma tendência de violência escolar no país (e no mundo), foram ao menos 377 ataques do tipo nos EUA, de acordo com um levantamento feito pelo jornal The Washington Post, que rastreia os casos na ausência de dados oficiais do assunto.

Em nenhum ano, porém, houve mais ataques do que em 2022: foram 47 no total. E o pico anterior não estava distante: aconteceu em 2021, com 42 casos. Contraditoriamente, os ataques em escolas seguem em alta apesar de um investimento contínuo bilionário das escolas, dos Estados e do governo federal para tentar contê-los.

Em 2021, as unidades educacionais americanas gastaram a cifra recorde de U$ 3,1 bilhões (cerca de R$ 15,6 bilhões) com sistemas e serviços de vigilância e proteção, segundo estimativas da consultoria de mercado tecnológico OMDIA. O valor representa um crescimento de 14% no total de gastos se comparado ao ano de 2017, o dado anterior disponível. No ano passado, o Congresso americano aprovou um pacote de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão) para ajudar as instituições a se equiparem contra violência armada.

A aplicação desses recursos é visível no cotidiano da maior parte dos estudantes dos EUA – câmeras, interfones e até detectores de metais se tornaram artigos comuns nas escolas.

Segundo os dados do Centro Nacional de Estatísticas da Educação do governo dos EUA, enquanto entre 2017 e 2018, apenas metade das unidades educacionais tinha controle total ao acesso às dependências da escola, incluindo quadras e playgrounds, agora dois terços delas possuem sistemas de controle de entrada e saída. Já a taxa de escolas com monitoramento via câmeras ultrapassa os 90%.

Mais do que isso: 43% por cento das escolas públicas possuem o chamado “botão de pânico”, uma espécie de alarme acionado silenciosamente de algum ponto da escola que se conecta diretamente com a polícia em caso de emergência. Há 5 anos, eram 29%.

Atualmente, 78% das escolas têm salas equipadas com fechaduras capazes de permitir trancamento interno – um aumento de 20% em relação aos dados do ano letivo entre 2017 e 2018. E 65% tem funcionários exclusivamente dedicados à segurança – em 51% das escolas, esses agentes trabalham munidos de armas de fogo.

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Mas por que tudo isso não reduziu ataques?

O que explica então que, com um aumento nas medidas de segurança, não se veja uma redução no número de casos de massacres escolares? De acordo com Justin Heinze, professor de saúde educacional da Universidade de Michigan e diretor do Centro Nacional de Segurança Escolar, a princípio, o aumento dos procedimentos de segurança na escola podem resultar em consequências positivas para lidar com o problema, mas estão longe de serem condições suficientes para prevenir os ataques.

“Não há hoje grandes evidências científicas para apoiar a ideia de que essas medidas tenham impacto definitivo na prevenção de massacres. A gente não desencoraja a adoção delas – até porque costumam ter impacto positivo em outras áreas da vida escolar, mas relembra à comunidade que esse não pode ser o único caminho para tentar combater o problema dos ataques”, diz Heinze à BBC News Brasil.

Em 2016, um estudo da Johns Hopkins University concluiu o mesmo: há pouca evidência de que novas tecnologias de segurança possam impedir ou diminuir massacres.

Um exemplo é o que se observa com o aumento do policiamento em escolas – que tem sido adotado nos EUA e que pode passar a ser uma realidade mais comum também no Brasil. Embora alguns estudos sugiram que ter agentes armados na escola pode desencorajar brigas entre grupos de adolescentes, o impacto da medida sobre a ocorrência e a letalidade de massacres é discutível.

Uma pesquisa publicada em 2019 no Journal of Adolescent Health, que revisou 179 episódios de tiroteios em escolas americanas entre 1999 e 2018, concluiu que manter guardas armados na escola não reduziu o número de vítimas em massacres.

E o aumento desse tipo de segurança pode embutir seus próprios riscos: um outro estudo financiado pelo Instituto Nacional de Justiça dos EUA e publicado em 2021 concluiu – depois de avaliar todos os casos entre 1980 e 2019 – que o número de mortes em escolas com guardas armados tendia a ser quase três vezes maior do que naquelas sem seguranças armados. A presença de agentes armados no ambiente escolar também estaria ligada ao aumento do absenteísmo estudantil, especialmente entre alunos de camadas mais vulneráveis da população.

Ambiente escolar que permita denúncias

Os EUA garantem acesso particularmente fácil a armas de fogo para a população em geral – são quase 400 milhões de armas entre pouco mais de 330 milhões de pessoas. Nessas condições, é estatisticamente mais provável que um adolescente ou um jovem americano consiga pôr as mãos em uma arma de fogo com mais facilidade do que um brasileiro. A dificuldade de acesso a armas no Brasil, segundo os investigadores dos casos recentes, ajudam a explicar porque os criminosos se valeram de instrumentos como bestas ou facas para seus ataques.

Segundo Heinze, a arma usada no crime terá impacto no resultado final da ação: com uma arma de fogo é possível vitimar muito mais gente em muito menos tempo. Mas a mecânica dos ataques costuma ser muito semelhante. E por isso algumas estratégias que têm demonstrado sucesso nas escolas americanas podem também funcionar para o Brasil.

Uma delas é criar canais para denúncias – anônimas ou não – dos estudantes, já que estima-se que em 4 de cada 5 episódios existissem potenciais delatores. “A grande maioria dos massacres em escolas tinha em sua história alguém que conhecia de antemão os planos do atirador, seja porque o viu escrito em algum lugar, seja porque o próprio autor compartilhou informações. Se esses alunos contarem o que sabem, abre-se a oportunidade de intervir e impedir a violência”, diz Heinze.

“Isso só é possível se a escola desenvolver um ambiente em que os alunos confiem em seus professores e se sintam à vontade para entrar em contato com eles ou com alguém da administração caso saibam de algo.”

A segunda é criar as chamadas “equipes de avaliação de ameaças”, grupos escolares multidisciplinares que são responsáveis por receber as denúncias, verificar a veracidade delas e criar planos para mitigar a violência e ajudar o aluno com comportamento potencialmente violento antes que qualquer ato aconteça. Atualmente, 9 dos 50 Estados americanos adotam essa política, entre eles a Flórida e o Texas.

“Esses são os programas com as evidências mais fortes de que funcionam para impedir massacres”, afirma Heinze. Esses programas conseguem estimar desde o potencial de agressão do estudante, avaliando seu acesso a armas, como acessar suas condições de saúde mental e indicar tratamentos de saúde. Para Heinze, esse, aliás, é um ponto especialmente sensível no pós-pandemia de covid-19.

Depois de uma mínima histórica em 2020 nos massacres, graças às escolas fechadas, os casos voltaram em um novo patamar nos EUA. Como lá, o isolamento, o uso intensivo de redes sociais e a perda do contato físico com os pares também aconteceu no Brasil e pode ser outro elemento a explicar o salto nos episódios.

Mariana Sanches

Da BBC News Brasil em Washington

Casal morre e filha sobrevive em queda de balão no México

Foto: Rebecca Blackwell/AP

José Nolasco, de 50 anos, e Viridiana Becerril, de 39 anos, morreram após o balão onde estavam pegar fogo e cair sobre as ruínas da Cidade do México, no sábado. A filha deles, Regina Itzani, de 13 anos, está internada no hospital com queimaduras. Ela teria quebrado o braço depois de pular do balão em chamas.

Segundo testemunhas, momentos antes da tragédia, a família havia posado para uma foto. O passeio foi um presente surpresa de aniversário para Viridiana, segundo a mãe dela, Reyna Gloria Sarmiento. A avó contou que Regina abraçou os pais antes de pular do balão em chamas. Foi relatado ainda que Viridiana teria pulado do balão algum tempo depois da filha e que José morreu na cabine.

A família morava na cidade de Caujimalpa de Morelos, que fica a 19 km a oeste da Cidade do México. Um vídeo postado nas redes sociais mostra o balão descendo rapidamente enquanto explode e a queda de alguns ocupantes. O balão de ar quente foi esvaziando à medida que as chamas queimavam a cabine onde a família mexicana estava. A polícia investiga se a causa do acidente foi um vazamento de combustível do tanque de armazenamento.

O piloto do balão teria fugido após o acidente e está sendo buscado pela polícia. De acordo com as autoridades locais, a empresa responsável pelo balão não teria permissão para operar, então não havia registro de voo, o que dificultou o reconhecimento das vítimas.

Local turístico

O acidente ocorreu nas ruínas pré-hispânicas de Teotihuacan, ao norte da cidade – local turístico que tem muitos passeios de balão. O local é conhecido pelas pirâmides do Sol e da Lua e já foi uma grande cidade que abrigou mais de 100.000 povos pré-astecas. A cidade antiga foi uma das maiores do mundo em seu auge entre 100 aC e 750 dC, antes de ser abandonada antes da ascensão dos astecas em 1300.

A Federação de Balões de Ar Quente de Teotihuacán (Fegat) informou que o balão que caiu não faz parte das equipes de voo autorizadas. A federação disse que é formada por oito empresas que atuam dentro dos marcos legais e vigentes da Agência Federal de Aviação Civil, além dos expedidos pelas autoridades locais e estaduais.

Fonte: www.g1.globo.com

Tribunal internacional emite mandado de prisão contra Putin por crimes de guerra

Presidente da Rússia, Vladimir Putin – Sputnik/Mikhail Metzel/Pool via REUTERS

O TPI, Tribunal Penal Internacional, emitiu um mandado de prisão do presidente russo, Vladimir Putin, nesta sexta feira (17). Putin está sendo apontado como responsável por crimes de guerra cometidos na Ucrânia.

Algumas suspeitas incluem deportação ilegal de crianças, transferência ilícita de pessoas do território ucraniano para a Federação Russa e danos à infraestrutura civil. Moscou nega as acusações.

Segundo informações da Reuters, até então, o Kremlin não respondeu aos pedidos de comentário. Além de Putin, a Comissária dos Direitos da Criança da Rússia também foi intimada.

Karim Khan, promotor do tribunal, abriu a investigação há mais de um ano. Ele suspeita que a Rússia tenha cometido crimes de guerra, violações contra a humanidade e genocídio na Ucrânia, desde o início da invasão.

“Os crimes foram supostamente cometidos em território ucraniano ocupado pelo menos a partir de 24 de fevereiro de 2022. Há motivos razoáveis ​​para acreditar que Putin tenha responsabilidade criminal individual pelos crimes mencionados”, afirmou.

Apesar das intimações, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, comentou em seu canal no Telegram que não está preocupada. “Os mandados de prisão do TPI não têm significado para o nosso país, inclusive do ponto de vista jurídico”, disse.

A porta-voz ainda lembrou que a Rússia não faz parte do Estatuto de Roma, o tratado que fundamenta o tribunal mundial perante crimes de guerra.

Fonte: https://www.r7.com/

Ovelha encontrada em floresta na Austrália produz mais de 35 kg de lã ao ser tosquiada

Foto: Reprodução G1

Uma ovelha selvagem e doente encontrada em uma floresta na Austrália, chamada de Baarack por aqueles que a resgataram, produziu mais de 35 quilos de lã – quase metade do peso de um canguru adulto – depois de ser tosquiada pela primeira vez em muitos anos.

A ovelha foi encontrada por uma pessoa que contatou o Santuário da Fazenda da Missão de Edgar perto de Lancefield, Victoria, cerca de 60 quilômetros ao norte de Melbourne, de acordo com Kyle Behrend, da Missão.

“Parece que Baarack já foi uma ovelha que teve um dono”, disse Behrend. “Ela já havia recebido uma marca na orelha. No entanto, estas parecem ter sido arrancadas pela lã espessa e emaranhada em torno de seu rosto”, completou.

“As ovelhas precisam ser tosquiadas pelo menos uma vez por ano, caso contrário, a lã continua a crescer e crescer, como aconteceu aqui”, disse Behrend. Depois de sua tão necessária tosquia, Behrend disse que a lã de Baarack pesava 35,4 kg.

“Embora seus cascos estivessem em ótimas condições de pisar as rochas na floresta, ela estava um pouco mal. Estava abaixo do peso e, devido a toda a lã em volta do rosto, mal conseguia ver”.

Baarack agora está se acomodando com outras ovelhas resgatadas na Missão de Edgar.

“Isso tudo mostra como as ovelhas são animais incrivelmente resistentes e corajosos”, disse Behrend. “Não poderíamos amá-las mais, mesmo se tentássemos.”

G1

Biden revoga veto de Trump a imigrantes

O presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, revogou medida do antecessor, Donald Trump, que vetava a entrada de alguns imigrantes no país por suposto “risco para o mercado de trabalho”.

Com a decisão, Biden inverteu com efeito imediato a decisão de Trump, anunciada em 22 de abril de 2020, nos primeiros meses da pandemia de covid-19, que atingiu duramente a economia dos EUA e atrasou a criação de emprego.

A decisão de Trump, prorrogada em junho de 2020 e depois em 31 de dezembro de 2020, determinava a suspensão da entrada de imigrantes e não imigrantes que representassem risco durante a recuperação econômica, após a pandemia.

Joe Biden defendeu agora que impedir a chegada dessas pessoas não faz avançar os interesses da América. “Pelo contrário”, acrescentou, “prejudica os Estados Unidos, inclusive ao impedir membros de famílias de cidadãos americanos e residentes permanentes legítimos de se reunirem com familiares”.

De acordo com o decreto, a decisão do antecessor também prejudica as indústrias americanas que utilizam talentos de todo o mundo. Além disso, “prejudica os indivíduos que foram selecionados para receber a oportunidade de se candidatarem, e aqueles que receberam vistos de imigrantes por meio da Lotaria da Diversidade de Vistos”.

Além de reverter a decisão da administração anterior, Biden instruiu os secretários de Estado, Trabalho e Segurança Interna a reverem “quaisquer regulamentos, ordens, documentos de orientação, políticas e quaisquer outras ações similares” desenvolvidos sob o decreto anterior e, se necessário, emitir novas disposições, de acordo com a atual política.

Agência Brasil