‘Mundo perdido’: Buraco milenar abriga 120 araras-vermelhas e mais de 150 espécies de aves e répteis

Buraco das Araras concorre a prêmio importante - Hotel Pousada Águas de Bonito

Um enorme buraco subterrâneo no centro de Mato Grosso do Sul, mais especificamente no município de Jardim, é o lar de 120 araras-vermelhas e mais de 150 espécies de animais silvestres. O Buraco das Araras é uma dolina, uma cavidade formada pela decomposição de rochas ao longo do tempo.

Por causa da rica biodiversidade que habita as paredes e o fundo da cratera de 100 metros de profundidade, onde também há um lago, o local foi reconhecido como uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) em 2007 pelo governo federal.

O que é uma RPPN?

É uma área de proteção ambiental criada em uma propriedade privada por iniciativa do dono da terra, que pode ser uma pessoa ou uma empresa, conforme determina o decreto federal 5.746/2006, que regulamenta essas áreas.

Veja outros animais e plantas encontrados na enorme cavidade:

  • 🐊Jacarés
  • 🐍Cobras
  • 🐭Pequenos roedores
  • 🐒Macacos
  • 🦇 Morcegos
  • 🐦Dezenas de espécies de pássaros, como pica-paus, periquitos, joãos de barro e andorinhas
  • 🌳Capins, flores, árvores que dão sementes e frutos

O pequeno lago no fundo do buraco é alimentado pela água da chuva e nascentes subterrâneas. O local é a casa de um jacaré do papo amarelo, algumas serpentes, em especial uma sucuri, de quase 7 metros.

Cratera tem cerca de 300 mil anos

De acordo com pesquisadores, a formação geológica teve início há mais de 10 milhões de anos. Porém, o grande buraco que abriga inúmeras espécies só foi formado há cerca de 300 mil anos.

O “mundo perdido” começou a ser desvendado em 1912, quando trabalhadores rurais se depararam com o imenso buraco, que já abrigava dezenas de araras. Josenildo Vasquez, turismólogo da propriedade, é quem resgata a história do local.

Segundo a bióloga Salete Cinti, os paredões da cratera são essenciais para a rotina e reprodução das araras-vermelhas, daí vem o nome dado à área de preservação ambiental.

Durante a época de formação de casais, as aves usam as cavidades nas rochas para construir os ninhos como um local mais seguro para o nascimento dos filhotes.

“Além disso, os paredões ajudam no controle do crescimento dos bicos, que se desgastam naturalmente enquanto bicam as pedras e exploram o ambiente”, completa a bióloga.

Turismo sustentável, pesquisa e educação

Dentro e ao redor das RPPNs, como na Buraco das Araras, apenas três atividades são permitidas:

  • A pesquisa – pesquisadores e biólogos frequentam o local para estudar as aves, o solo e as plantas;
  • O ecoturismo – trilhas, observação de aves, visitas guiadas. Tudo bem controlado para não impactar o ambiente;
  • Educação ambiental – atividades que educam os visitantes sobre a importância da conservação.

Quem visita o local pode fazer dois tipos de passeios ao redor da dolina. O turismo foi liberado a partir de uma licença de operação emitida pela secretaria de meio ambiente de Mato Grosso do Sul e pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav) emitida em 2007, no mesmo ano em que a propriedade se tornou uma RPPN. Veja as opções:

  • Trilha e contemplação: esse passeio dura aproximadamente 1h20. Os turistas fazem uma caminhada suave por uma trilha de 970 metros. O trajeto tem dois mirantes de parada para observação das aves e da dolina;
  • Observação das aves: a observação e fotografia das aves tem duração de 4 horas. Nesse período, o visitante escolhe o ritmo em que quer fazer a trilha de 970 metros. O foco é a captura de imagens.

Toda a atividade é acompanhada por guias de turismo ou monitores ambientais credenciados, que recebem treinamento para conduzir grupos de turistas no local. A interação com qualquer tipo de animal que vive na dolina é proibida.

Os passeios possuem valores que variam de R$ 117,00 a R$ 385,00. Pela legislação que rege sobre uma RPPN, todo o valor é destinado para a manutenção, conservação e preservação da área. O excedente dos lucros vai para o proprietário do Buraco das Araras, Modesto Sampaio (entenda mais abaixo).

Desde que foi reconhecido como uma RPPN, a entrada de pessoas dentro do buraco das araras é estritamente proibida, sendo liberada em casos de pesquisa científica e com o acompanhamento de órgãos fiscalizadores estaduais e federais.

Reconhecimento como área de preservação

Modesto Sampaio é dono do Buraco das Araras desde a década de 1980. A decisão de destinar a terra à conservação ambiental partiu do próprio “Seu Modesto”. Antes, as terras eram dedicadas à pecuária.

No ano de 2000, ele iniciou o processo para transformar o local em uma RPPN, e em 2007 a área de 29 hectares foi reconhecida pelo governo federal.

Assim, o proprietário compartilha com o governo a responsabilidade de conservar a natureza, ajudando a proteger a fauna e a flora do local. Por parte do governo é dado o incentivo que isenta o proprietário da RPPN do Imposto Territorial Rural (ITR) referente à área.

Quanto à fiscalização no local, acontece anualmente através de órgãos competentes a preservação, como Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou secretaria de meio ambiente.

Para que uma RPPN seja reconhecida No Sistema Nacional de Unidades de Conservação(SNUC), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática, são necessárias algumas etapas. Veja quais:

  • Escolher a área da propriedade com atributos ambientais (características naturais únicas daquele determinado local. Por exemplo, uma área de pasto não pode se tornar uma RPPN
  • Ter em dia todas as documentações da propriedade
  • Encaminhar o pedido ao órgão responsável, pode ser para uma secretaria estadual de Meio Ambiente ou ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade)
  • Aguardar a vistoria dos órgãos competentes, para a liberação da licença e documentos

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