
É um momento de reflexão que alivia as angústias do dia a dia. A cada passo, parece que conseguimos nos distanciar das guerras, da violência e do ódio que hoje assolam o mundo. Corremos, muitas vezes, como quem está em fuga permanente. Um pouco de fuga e muito de encontro. Aprendi a me isolar nesses momentos quando fazia análise em Paris. Meu analista tinha seu consultório à beira do Jardin des Tuileries e, depois de cada sessão de 1 hora, vagava sozinho por mais 2 ou 3 horas. Era como se cada sessão tivesse 3 ou 4 horas.
“Perdi muito tempo até aprender que não se guarda as palavras. Ou você as fala, as escreve, ou elas te sufocam.” –Clarice Lispector Correr em Paris faz bem para a saúde e, especialmente, para o espírito. Normalmente, corro à beira do Sena e no Jardin des Tuileries. Mesmo cedinho, é interessante ver a enorme quantidade de turistas que parecem brigar por um espaço e por uma foto. Com a loucura das pessoas pelo celular, é comum ter que desviar de algum incauto que parece não notar a beleza de Paris e se ocupar tão somente da tela do WhatsApp.
São coisas que não conseguimos fazer no dia a dia comum, quando estamos em casa trabalhando. O mundo cotidiano tem uma velocidade que acaba nos distanciando de nós mesmos. Sem tempo para leitura, para não fazer nada e nem para olharmos devagar os detalhes que nos cercam. A crueza das notícias 24 horas faz mal às pessoas. Há, permanentemente, uma guerra a nos ocupar. Ou nós nos embrutecemos com as atrocidades, quase fingindo não as ver, ou, literalmente, enlouquecemos.
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”