Templos fechados, corações abertos

Padre João Medeiros Filho

Doutor William Douglas R. Santos é professor e juiz titular da Quarta Vara Federal de Niterói. Recentemente, afirmou que as igrejas não podem ser fechadas, pois prestam serviço essencial. Comentava que as pessoas vão a supermercados e padarias – atividade vital – a fim de adquirir o alimento cotidiano indispensável para o corpo. Mas, não tiveram chance, mesmo se fossem observados todos os cuidados e precauções, de receber presencialmente o pão espiritual. De acordo com o magistrado, “é natural e cabível que as autoridades civis exijam dentro dos templos o uso de máscara, álcool gel e o distanciamento social. No entanto, não podem determinar o seu fechamento”. O medo calou e tolheu a população. Durante a perseguição de imperadores romanos e em outros momentos, pastores e fiéis foram destemidos. Entretanto, não se deve considerar o silêncio de muitos como ausência de fé ou de convicção religiosa. Várias lideranças cristãs e de outros credos optaram por não questionar medidas determinadas, De acordo com dados científicos disponíveis. Agiram deste modo para não tumultuar ainda mais a vida dos fiéis, apavorados com a pandemia. Fecharam os prédios, mas não as igrejas de nossos corações. O apóstolo Paulo afirmava: “Não sabeis que vós sois o Templo de Deus”? (1Cor 3, 16).

Em texto divulgado nas redes sociais, Chris Banescu (docente da Universidade de Maryland) demonstrou espanto ao ler que o Covid-19 é assaz inteligente. Segundo teorias propaladas, o vírus é passível de se ocultar inclusive nos bancos das igrejas. Assim declaram alguns cientistas, seguidos por certos administradores e líderes. Consoante suas pesquisas, o Sarscov-2 pode contaminar os indivíduos até dois metros (ou metro e meio) de distância. Ironicamente, Chris imagina que o vírus possua um sensor acoplado a uma trena. Conclui dizendo que,em nome da “ciência”, nos transmitiram também relatos fantasiosos e dados de ficção. “Será que não há subliminarmente outros interesses (até ideológicos)?” Assim, indagou Banescu.

Voltando ao Dr. William Douglas, este enfatiza que os templos são lugares protegidos pelos direitos humanos e pela Constituição Federal. O culto religioso constitui-se em atividade essencial à vida. Por isso, ninguém poderá impedi-lo.Ele lembrou ainda que as igrejas pertencem aos fiéis, que as mantêm e devem ser ouvidos. Na ocasião, aludiu à laicidade constitucional do Estado brasileiro e à atuação histórica de teístas no cenário político. Ser laico implica na liberdade e respeito de todas as religiões e até do ateísmo. E o Estado precisa saber lidar com as diversas crenças numa sociedade pluralista e democrática. Constitucionalmente, não se pode abolir Deus e a vida religiosa de nosso povo. Fechar as igrejas acarreta, de forma sutil e velada,a exclusão do Divino no cotidiano dos que creem. Para eles os templos são locais privilegiados da presença do Sagrado.

Há os que querem banir Deus e Cristo da arena pública. Volta à baila a discussão sobre a posição dos símbolos religiosos – máxime os cristãos – em edifícios oficiais. Tem sido objeto de um processo de apelação junto ao Supremo Tribunal Federal. Vale citar as palavras do renomado jurista Sobral Pinto: “O crucifixo nas repartições públicas e nas cortes – independentemente de haver uma religião que surgiu do Crucificado – é uma salutar advertência sobre a responsabilidade dos governantes e juízes, a respeito de erros e riscos de atenderem aos poderosos mais do que aos necessitados e desvalidos”.

À luz do Direito, deveria ter sido analisado o fato das igrejas serem fechadas,durante a pandemia.Como pastores e ministros do culto compete-nos, segundo os postulados teológicos, animar e fortalecer os fiéis na sua fé, com a pregação da Palavra Sagrada e a distribuição dos sacramentos. Santo Irineu, primeiro bispo de Lyon, afirmara: “Não é justo privar os meus irmãos da Ceia do Senhor”. Até em situações bélicas, os capelães militares (de diferentes religiões) se achegam aos campos de batalha para assistir aos feridos e moribundos. Nesta guerra sanitária, há quem questione: não fomos inibidos no exercício do ministério, privando os cristãos da vida litúrgica? “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34).