PPP do Centro de Convenções irá estimular turismo de eventos no RN

Espaços bem estruturados são fundamentais para fortalecer o turismo de eventos em um determinado destino, mas essa boa infraestrutura depende de investimentos que nem sempre o poder público tem condições de fazer. Leonardo Vieira, diretor geral do Centro de Convenções (CentroSul) de Florianópolis (SC), afirma que a saída para a questão está na implementação do modelo de parceria público-privada (PPP), que irá estimular o segmento no Rio Grande do Norte e fomentar a expansão e criação de empresas. Vieira trouxe as experiências do CentroSul – primeira PPP de um centro de convenções no País – para uma mesa redonda no Motores do Desenvolvimento.
Ele explica que, com o possível aumento da captação de eventos em razão da PPP, o Centro de Convenções de Natal (CCN) irá precisar de empresas que atendam a demandas de limpeza, sonorização, segurança, recepção, mestre de cerimônias, dentre outras, impulsionando a necessidade de novos negócios ou favorecendo a ampliação deles. Como exemplo, Vieira cita o caso do CentroSul. “Por lá, temos 312 empresas cadastradas para suprir nossa demanda. Sem falar que estimulamos o desenvolvimento da rede hoteleira e de restaurantes de ótima qualidade. Então, imagina o que pode acontecer aqui quando a PPP for adotada?”, comenta.

A profissionalização dos serviços é outro ponto positivo trazido pela PPP dos espaços de convenção e o consequente incremento do segmento de eventos, segundo Leonardo Vieira, que é ex-presidente e fundador da Câmara Brasileira de Centros de Convenções, Pavilhões e Locais de Eventos da União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe). O potencial de Natal para o setor de turismo já é um ponto a favor do destino, de acordo com o diretor do CentroSul.

Vieira avalia que a capital potiguar possui carisma, uma rede hoteleira forte, boa gastronomia e dispõe de voos internacionais, fatores favoráveis ao turismo de eventos. “Então, a PPP [do CCN] vai fazer uma diferença enorme para o destino”, analisa. Para mostrar a dimensão do segmento, Vieira apresentou, durante a mesa redonda, os números da área com base nos dados do Ministério do Trabalho, da Receita Federal e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de janeiro de 2023.

Os dados registram para o turismo de eventos 77 mil empresas, 93 mil vagas de empregos formais e 112 mil postos informais em todo o País, com mais de 496 mil pessoas envolvidas entre empregados, empregadores e microempreendedores individuais (MEIs), com R$ 2,6 bilhões pagos em salários. Ainda conforme os dados, são realizados no Brasil 24,8 mil eventos anualmente, com um público de 44 milhões de participantes e faturamento bruto de R$ 314 milhões ao ano.

Os reflexos dos números na relação com os destinos se consolidam com o aumento de turistas, maior arrecadação para os municípios, visibilidade da região no cenário nacional e internacional e satisfação da população local. O turismo de eventos gera mobilização, com o envolvimento das entidades de classe em busca de captação, parcerias entre o poder público e privado e melhor concorrência entre promotores e organizadores.

Esses reflexos, segundo Leonardo Vieira, já são visíveis em Florianópolis, desde que o CentroSul foi inaugurado com uma PPP em 1998. A relicitação da modalidade para o equipamento irá ocorrer este ano. De 2008 a 2024, o Centro de Convenções da capital catarinense recebeu 1952 eventos, 8 milhões de congressistas/visitantes e registrou taxa média de ocupação de 272 dias por ano. “Os bons números são resultado da PPP, uma vez que o interesse da iniciativa privada é a lucratividade”, fala Vieira.

Sobre o desenvolvimento econômico, o diretor do CentroSul conta que, antes do equipamento, Florianópolis contabilizava apenas oito hotéis. Hoje, são mais de 68, com cerca de 25,4 mil leitos. “Ao redor do Centro de Convenções, temos mais de 8,7 mil leitos. O nosso grupo possui oito hotéis, onde 80% dos trabalhadores, a exemplo de camareiras e recepcionistas, passaram por formação no Senai”, comenta, para mostrar como o segmento estimula a capacitação profissional. No ano passado, o equipamento registrou a realização de 146 eventos, reunindo mais de 730 mil congressistas.

Centro de Convenções de Natal precisa passar por remodelagem

Aqui no RN discute-se, já há algum tempo, a concessão do Centro de Convenções de Natal (CCN) para a iniciativa privada. Esse é o caminho para alavancar o destino como polo do turismo de eventos?
É fundamental que isso aconteça. No CentroSul eu tenho um departamento comercial que faz a captação, além de funcionários em todas as áreas de atendimento que, se for preciso virar a noite, eles ficam. E isso não existe na atividade pública. Outro exemplo importante de avanços é Aracaju (SE), que nunca foi destaque no turismo de eventos. Após a PPP do Centro de Convenções [em 2021], tivemos a cidade disputando eventos significativos no Brasil. Então, eu acredito que é fundamental esse modelo em Natal, que é um destino muito forte no turismo de temporada, mas, apesar de ter um centro [de convenções] em um lugar espetacular, em uma área de vários hotéis, não é uma cidade com força no turismo de eventos. E o que ocorre hoje no CCN? Falta estrutura de administração e salas para que ele receba grandes congressos brasileiros. Apesar de ter uma boa estrutura no anexo, o equipamento precisa de uma remodelagem, com uma área de saguão e de entrada. São mudanças que despertam o interesse pela cidade.

Atualmente, quais são os destinos que são destaque no turismo de eventos e o que a concessão dos centros de convenções à iniciativa privada têm a ver com isso?
A concessão tem absolutamente tudo a ver. Aqui eu destaco Goiânia (GO) e Salvador (BA), que estão em uma disputa fenomenal para a captação de eventos. Nesses estados, empresas já estruturadas e com conhecimento na área ganharam campo e estão “nadando” nesse segmento, com uma média de mais de 100 eventos por ano nos espaços de convenções. Aqui no CentroSul não há mais data disponível para este ano, com o último evento marcado para 22 de dezembro. Então, é fundamental que esses equipamentos sejam concedidos para empresas com capacidade e conhecimento e que tenham vontade de fazer com que as cidades mudem.

O que o turismo de eventos representa para a economia de uma região?
Calcula-se que nessa alta temporada a cidade recebeu 1,6 milhão de turistas. É preciso considerar que mais de 65% desse volume ficam em Airbnb, em albergue ou casa de aluguel, enquanto cerca de 35% ficam em hotel, que é quem gasta efetivamente. Enquanto o primeiro perfil evita gastos em restaurantes, na noite ou na praia, porque ele costuma levar a própria cerveja, por exemplo, o turista de eventos, que fica em hotéis, é o oposto. É esse turista quem gasta com almoço, jantar, táxi ou transporte por aplicativo, shopping e vida noturna, deixando em média